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A Senhora Dona Amélia

Amélia Rey Colaço (1898-1990) foi uma das figuras mais emblemáticas e proeminentes do teatro português no século XX, uma atriz e encenadora que deixou uma marca indelével na cultura do país.

Amélia Schmidt Lafourcade Rey Colaço Robles Monteiro, nasceu em Lisboa a 2 de março de 1898, numa família de elevado estatuto cultural e social, sendo Amélia a mais nova das quatro filhas.

Filha do famoso pianista, compositor e mestre de música, Alexandre Rey Colaço e de Alice Schmidt Lafourcade, cresceu num ambiente privilegiado e culturalmente rico.

Em dezembro de 1911 foi com a irmã para Berlim, para casa da avó materna, com o objetivo de estudar música. Também aqui encontrou um ambiente cultural estimulante, nas constantes tertúlias em casa da sua avó, Madame Kirsinger, frequentadas por vários artistas da capital alemã. Foram os espetáculos de Max Reinhardt com o Deutsches Theater, que seguiu atentamente nas suas estadias em Berlim, que atraíram Amélia para a carreira de atriz.

Regressada a Portugal, iniciou aulas de teatro com Augusto Rosa (ator, cofundador da Companhia Rosas & Brazão). Paralelamente, era frequente a participação das irmãs Rey Colaço em récitais de caridade ou particulares – foi notória a sua ida a Madrid em 1915, onde recitaram para D. Afonso XIII e corte – o que familiarizou a jovem com a presença em público.

Na sua formação foram essenciais, além dos ensinamentos de Augusto Rosa, os conselhos e acompanhamento de outras figuras que de certo modo apadrinharam Amélia, como é o caso de Afonso Lopes Vieira, com quem a atriz frequentemente discutia o seu trabalho. Todo este contexto ajudou Amélia a desenvolver um estilo próprio de representação, diferente do academismo romântico em que Rosa se havia formado.

A 17 de novembro de 1917 estreou-se com 19 anos no então Teatro República (antigo Teatro de D. Amélia, antes da implantação da República e, é hoje o Teatro São Luiz), na peça “Marianela” adaptação dos Irmãos Quintero da peça de Benito Pérez Galdós.

Por decisão do pai da atriz, por ser uma personagem que realmente testaria as suas capacidades, sem “plumas ou enfeites para disfarçar qualquer gaucherie. […] uma rapariguinha do povo, descalça, esfarrapada, […] mas de alma grande” (apud SANTOS 1989b: 26). Para fazer a personagem, uma rude vagabunda, aprendeu, durante meses, a andar descalça e a usar farrapos, no interior do jardim do seu palacete, marcando assim o início de uma carreira repleta de êxitos.

A estreia de Amélia foi recebida com entusiasmo pela maioria dos críticos. Nóbrega Quintal elogiou o “jogo fisionómico perfeito, uma voz cantante cheia de ritmo que acaricia, um cuidado meticuloso na composição exterior da personagem, uma interpretação verdadeira, escrupulosa, perfeita”, e jornais como o Diário de Notícias, O Século e O Mundo anunciaram o início de uma carreira brilhante, de enorme valor para o teatro português (apud BARROS 2009: 43). Amélia ficou no São Luiz até 1919, recusando convites para integrar companhias espanholas (a de Martinez Sierra, por exemplo) e só saindo para se juntar à Companhia de Lucinda Simões, no Teatro do Ginásio, que, de resto, abandonou em abril de 1920, porque fora entretanto contratada para a época estival do Teatro Nacional.

Acabou por ficar como societária deste teatro na época de 1920-21.

Através de Augusto Rosa, Amélia conheceu Robles Monteiro, ator e também discípulo daquele, e com ele casou em dezembro de 1920, e juntos fundaram a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, que viria a ser a mais duradoura companhia teatral da Europa, com 53 anos de atividade, dos quais 35 sediados no Teatro Nacional D. Maria II.

A Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro foi um projeto que acabou por definir a vida profissional – e também pessoal – de Amélia, desde os seus 23 anos.

Zilda foi a peça escolhida para a estreia da companhia, a 18 de junho de 1921, no Teatro de S. Carlos. A peça, polémica a vários títulos, foi bem recebida pela crítica e pelo público, mas não tardou a ser retirada de cena com o rótulo de “moralmente condenável”.

Terminado o seu tempo no S. Carlos no final de 1921, os primeiros meses de 1922 foram passados em tournée, com uma estadia no Porto. Regressaram a Lisboa para se fixarem no Teatro Politeama, onde ficaram cerca de quatro anos, até ao verão de 1926.

Com a morte de Robles Monteiro em 1958, assumiu as responsabilidades de gestão administrativa até aí desempenhadas pelo marido e passou a partilhar a direção da companhia com a filha de ambos, Mariana (Rey Monteiro, também atriz, que se estreou junto dos pais em Antígona, em 1946).

A 2 de dezembro de 1964, quando estava em cena a peça “Macbeth”, de Shakespeare,deflagrou um grave incêndio que consumiu, não apenas o interior do Teatro,como também a totalidade do rico espólio de cenários e guarda-roupa que foram a base do repertório erguido, ao longo de mais de 40 anos, pela Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.

Menos de duas semanas depois, a 15 de dezembro, Amélia e a companhia apresentaram Macbeth (o espetáculo em cena aquando do incêndio) no Coliseu dos Recreios, como prova da sua determinação em não desistir.

No entanto, Amélia ainda teve que ultrapassar, em dezembro de 1967, outro incêndio no Teatro Avenida, onde a companhia estava instalada desde a sua saída do Nacional. Sem esmorecer, levou a companhia para o Capitólio (1968-70) e de seguida para o Trindade, que partilhou com uma companhia de opereta, apresentando apenas dois ou três espetáculos por temporada. Com a revolução de abril de 1974, com um panorama teatral mudado e crescentes dificuldades financeiras, Amélia encerrou a atividade da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.

A companhia foi um marco no teatro português, levando à cena cerca de uma centena e meia de peças de dramaturgos nacionais e internacionais, contribuindo significativamente para o enriquecimento cultural do país, de dramaturgos como José Régio, Bernardo Santareno, Romeu Correia, Jean Cocteau e Garcia Lorca, impondo um cunho de requinte e de elegância a que o teatro português não estava habituado.

Como atriz, foi aplaudida nos mais variados géneros e papéis, que trabalhava, segundo a própria, em absoluto silêncio em sua casa: primeiro o estudo psicológico, de seguida as falas, e depois uma vivência constante com a personagem, pensando em todos os pormenores desde a voz ao calçado.

Amélia não se restringiu ao teatro, tendo participado em filmes como “O Primo Basílio” e na série televisiva “Gente Fina é Outra Coisa” (1982), onde contracenou com sua filha Mariana Rey Monteiro e outros atores consagrados.

A sua última grande atuação, em 1985, foi na peça “El-Rei D. Sebastião” de José Régio, aos 87 anos, no papel de Dona Catarina.

A sua paixão pelo teatro voltou a refletir-se, no final da sua vida, no apoio que deu à concretização do projeto do Museu Nacional do Teatro.

Foi agraciada com várias condecorações, tanto nacionais como internacionais, reconhecendo o seu contributo inestimável para as artes em Portugal, incluindo a Comenda da Ordem da Instrução Pública, a Comenda da Ordem de Sant’Iago da Espada, a Comenda da Ordem de Cristo, e a Grande-Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada de Portugal, bem como a Dama da Ordem das Artes e das Letras de França

Amélia Rey Colaço faleceu a 8 de julho de 1990 em Lisboa, deixando um legado indelével na história do teatro português, celebrada como uma das suas figuras mais proeminentes do século XX.

A vida e carreira de Amélia Rey Colaço foram pautadas por um profundo compromisso com o teatro e com a cultura portuguesa, legando um património artístico de valor incalculável.

A sua vida e obra continuam a ser uma fonte de inspiração, celebrando o seu papel fundamental no desenvolvimento do teatro em Portugal e no reconhecimento internacional da sua arte.

Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9lia_Rey_Cola%C3%A7o
https://www.infopedia.pt/artigos/$amelia-rey-colaco
http://cvc.instituto-camoes.pt/pessoas/amelia-rey-colaco.html
https://www.rtp.pt/play/p8868/a-senhora-dona-amelia

 

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